Mirando,
bestializado, a extravagante aquarela político-econômica pintada no céu azul do
Rio de Janeiro por sinistras manoplas, só nos resta rir, rir às bandeiras
despregadas. Estamos vivendo uma tremenda ópera bufa com atores canastrões cujo
desempenho torna-se cada vez mais mesquinho, em que pese os anos de exercício
na politicagem profissional.
O Rio de Janeiro está falido.
Não pode existir sentença mais estapafúrdia e mentirosa.
Fala-se do segundo maior estado brasileiro como se falasse do Burundi. Assim,
só nos resta rir. Vamos rir. Rir muito, pois o riso é também uma filosofia.
Aqui, o riso pode ser a salvação. E em se tratando de política, seja em solo
carioca, fluminense ou brasileiro, o riso tem força de opinião. Com nossos
políticos só três soluções – rir, caçar ou cuspir. Sejamos educados e
filósofos, vamos rir.
Aqui está ao meu lado, chorosa, humilhada, envergonhada,
tripudiada, nossa Carta constitucional, a “Constituição Cidadã”, declarando,
com ingenuidade, que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza; declarando que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude da lei; declarando que ninguém será submetido a
tratamento desumano e degradante; declarando que é livre a manifestação do
pensamento.
Mas, aqui, não há igualdade, sobretudo, perante a lei.
Nada mais desigual. Sabemos muito bem como funciona nossa justiça – farinha pouca,
meu pirão primeiro. E os magistrados que o digam.
E lá vai o consciente servidor, sob o manto régio, ainda
que sobejamente maculado da nossa amiga “Constituição Cidadã”, fazer valer o
seu direito garantido por lei e tome lá, por mando também da lei, borracha no
lombo e gás de pimenta na cara. De par com ele, lívida de vergonha, gemendo e
chorando convulsa a Carta Magna deixa escapar com se fosse um suspiro
derradeiro – E vivemos num Estado Democrático de Direito!
É por isso talvez que ninguém acredite mais nesse negócio
de Democracia, muito menos em Direito. É que ninguém crê em ti, oh!
Constituição Cidadã! Os ministros que te defendem, os jornais e livros que te
citam, os jurisconsultos que te comentam, os professores que te ensinam, os
padres e pastores que falam em ti, aqueles mesmos cuja única profissão era
acreditar em ti, todos, na prática cotidiana, te renegam e ganhando o próprio
pão em teu nome, te achincalham e te menoscabam.
E apesar de tudo isso, esta política corrupta, desumana,
infiel aos seus princípios, vivendo no perpétuo desmentido de si mesma,
desautorizada, apupada, amaldiçoada, xingada, pede e exige, ainda, sem a menor
desfaçatez, a uma multidão inumerável de sofredores, humilhados e ofendidos, a
salvação da coisa pública.
É trágico, patético, o cúmulo da covardia e da falta de
caráter. É como pedir a um palhaço de pernas e braços quebrados mais uma
cambalhota ou um chiste.
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